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quinta-feira, 29 de março de 2012
domingo, 25 de março de 2012
O texto abaixo sobre Chico Anísio
Minha amiga Graice me falou que o texto é de um escritor desconhecido
Nota que recebi da minha amiga Graice
Bela manchete do Jornal O Dia. Morreram mesmo...
O que posso falar de Chico Anysio?...
Que ele me fez dar gargalhadas durante décadas da minhavida?
Que ele me fez tentar imitá-lo em muitas ocasiões?
Que ele, com o seu humor natural e inteligente, foi umrepresentante do povo na televisão?
Que ele foi um predestinado?
Que eu lhe sou muito grato por mudado o meu humor paramelhor inúmeras vezes?
Muitas coisas eu poderia dizer. Mas o que sinto, realmente, éuma sensação de orfandade,
diante das porcarias que aparecem na televisão a que chamamde humor.
O que a TV oferece de “programas humorísticos” éuma verdadeira baixaria e um insulto
à inteligência de qualquer um!!!
Eu acho que o trono do humor brasileiro, por direito desucessão, agora está com Jô Soares,
apesar de ter abandonado os programas humorísticos e estarse dedicando ao “Programa do Jô”,
também muito interessante.
Valeu Chico!!!
Greice
sexta-feira, 23 de março de 2012
A moça de vinte e dois anos...
A moça de
vinte e dois anos...
Maria J Fortuna
Tem uma moça
de vinte e dois anos brigando dentro de mim. Já lhe falei que ela é coisa
antiga, mas insiste em emergir da poeira do passado, para me dizer, com todas
as letras que, o que sou hoje, devo a ela. E que, em minhas veias, ainda corre
seu sangue. Com menos energia, mas é o mesmo conteúdo herdado e isso justifica
um pouco o que chamamos destino. Fala também que, por causa de suas
descobertas, brigas, conflitos, tristezas e pequenas alegrias, posso dizer que
me superei. Aí ela levanta o véu das águas do tempo para que eu veja, em todas
as conchas da praia, o espelho de mim mesma. Foi isso que aconteceu naquele dia
em que fui à praia e o mar recuou, imprimindo na areia minha velha imagem
molhada e trêmula. Sempre foi assim na ilha em que nasci. Eu, menina pensava:
as ondas não ligam pra nada a não ser para cumprir a sua sina, fazendo um
barulhão! Nem sabia que as grandes sombras projetadas na areia molhada eram
façanha do sol em nossos corpos. Eu me sentia enorme!
Mas a moça de
vinte e dois anos me falou que foi definitiva a coragem ao abraçar minha mãe e o suportar da benção negada do
meu pai, quando peguei minha pequena mala e sumi de casa. Tinha que correr
quando ainda havia tempo para fazer reparos na alma. E aprender com o que não
podia mais ser restaurado. Nem quero
falar, nem escrever o que deixei por lá. Aparentemente nada, mas em cada
coração a realidade da vida se amontoava e dizia: Não adianta! Tudo tem que
mudar para que haja sobrevivência! Então, naquele dia chuvoso meu corpo sentado
na cadeira do ônibus, via a paisagem passar e se transformar. Eu também passava
e me transformava...
Dali nem dá mais para contar os anos que
galopam em correria. Quando voltei não quis mergulhar nas ausências. Prossegui.
Mas é assim: com o tempo a gente começa a celebrar a paz que fica na alma
depois de desbravar florestas e de beber o sereno do cactos benditos, pessoas
boas que se encontra pelo caminho.
Pois é. Agora
estou aqui com esta saudade morena a percorrer fio a fio o tecido das
lembranças. Umas azuis, como nos dias em que acampei na Serra do Cipó, vermelho
quando descobri o amor carnal, verde quando perdida nas minhas esperanças,
cinza quando nada parecia dar certo, rosa quando os dias me indicavam sossego...
Daí pra frente. Talvez o preto, que o
coração não queria aceitar, tenha se misturado àquelas cores no paladar de uma
existência de luta salgada, mas sempre havia jeito de ficar aquarelada, mesmo
em cores mais escuras. Essa foi a salvação!
A moça de 22
anos me falou que, graças ao amor à Beleza, consegui, apesar de tudo, mergulhar no meu espaço interior, no templo da alma e descobrir as artes.
Afinal vaguei pelas salas de dança improvisando ao som de Vivaldi, pelos palcos amadores
sem coragem para tornar-me personagem de mim mesma, pelos ateliês buscando
expressar-me com traços e cores que se misturavam nas telas perdidas...
Aparentemente
nada deu certo. Então digo a essa moça, em seus vinte e dois anos, que na busca
itinerante das artes, acabei tornando-me poeta.
quarta-feira, 21 de março de 2012
O gato preto
Maria J Fortuna
O gato preto
alisa a escuridão
com seu pelo macio
... Passa pra lá e pra cá
tomando posse
dos seus afetos
no roçar do seu corpo
em minhas pernas
Traz doçura nos miados
Rebuçados e babados
Espanta o medo
E confia...
O gato preto
alisa a escuridão
com seu pelo macio
... Passa pra lá e pra cá
tomando posse
dos seus afetos
no roçar do seu corpo
em minhas pernas
Traz doçura nos miados
Rebuçados e babados
Espanta o medo
E confia...
terça-feira, 20 de março de 2012
Minha mestra Maria do Carmo Secco
O Largo das Artes apresenta a exposição individual UMAS E OUTROS, de MARIA DO CARMO SECCO, reunindo um conjunto de obras recentes e inéditas da artista.
Em sua política de estabelecer o diálogo entre criadores de diferentes gerações e técnicas, a galeria dessa vez traz a consagrada artista Maria do Carmo Secco, que integrou nos anos 60 o movimento chamado Nova Figuração e, desde então, tem-se mantido atuante e presente no cenário da arte contemporânea brasileira.
Investigativa e, ao mesmo tempo, rigorosa em suas pesquisas, Maria do Carmo dedicou-se à experimentação de novos suportes, expandindo seu trabalho para novos formatos de telas e para a construção de objetos. Ao longo dos anos, desenvolveu pinturas, objetos e desenhos.
Nesta exposição Maria Carmo Secco expõe a série de pinturas Meus Desígnios, que têm como característica a utilização do binômio construção/figuração para descrever plasticamente uma nova fase de sua construção pictórica, além de um conjunto de objetos e desenhos que revelam a liberdade da artista em sua composição gráfica.
Em suas próprias palavras, a artista assim define a individual UMAS E OUTROS:
O indio José, da tribo Maxakali, enquanto rabiscava com um graveto a areia à sua frente, respondeu assim, quando lhe perguntaram como eles entendiam o desenho: o desenho é a escrita do pensamento no chão.
Toda obra é uma síntese e toda síntese indica um limite. O limite do que é passível de ser expresso pela linguagem humana. Minha obra mostra os limites da construção de um mundo. O mundo em que habito agora. Um mundo de objetos-linhas-cores que constroem um espaço alternativo…
Um mundo sem tempo…
Papel e tela, lápis e tinta.
Cores e movimento.
Sim e não.
Estou tentando dizer: esta minha “segunda vida” tem me ensinado a procurar o essencial. A sintetizar o essencial. Embora todos estes trabalhos apresentem uma coerência com aquilo que tenho produzido nos últimos (tantos!) anos, eles agora têm uma nova preocupação: expressar uma nova comoção, a de me sentir viva de uma forma diferente, criadora!
Em sua política de estabelecer o diálogo entre criadores de diferentes gerações e técnicas, a galeria dessa vez traz a consagrada artista Maria do Carmo Secco, que integrou nos anos 60 o movimento chamado Nova Figuração e, desde então, tem-se mantido atuante e presente no cenário da arte contemporânea brasileira.
Investigativa e, ao mesmo tempo, rigorosa em suas pesquisas, Maria do Carmo dedicou-se à experimentação de novos suportes, expandindo seu trabalho para novos formatos de telas e para a construção de objetos. Ao longo dos anos, desenvolveu pinturas, objetos e desenhos.
Nesta exposição Maria Carmo Secco expõe a série de pinturas Meus Desígnios, que têm como característica a utilização do binômio construção/figuração para descrever plasticamente uma nova fase de sua construção pictórica, além de um conjunto de objetos e desenhos que revelam a liberdade da artista em sua composição gráfica.
Em suas próprias palavras, a artista assim define a individual UMAS E OUTROS:
O indio José, da tribo Maxakali, enquanto rabiscava com um graveto a areia à sua frente, respondeu assim, quando lhe perguntaram como eles entendiam o desenho: o desenho é a escrita do pensamento no chão.
Toda obra é uma síntese e toda síntese indica um limite. O limite do que é passível de ser expresso pela linguagem humana. Minha obra mostra os limites da construção de um mundo. O mundo em que habito agora. Um mundo de objetos-linhas-cores que constroem um espaço alternativo…
Um mundo sem tempo…
Papel e tela, lápis e tinta.
Cores e movimento.
Sim e não.
Estou tentando dizer: esta minha “segunda vida” tem me ensinado a procurar o essencial. A sintetizar o essencial. Embora todos estes trabalhos apresentem uma coerência com aquilo que tenho produzido nos últimos (tantos!) anos, eles agora têm uma nova preocupação: expressar uma nova comoção, a de me sentir viva de uma forma diferente, criadora!
sexta-feira, 16 de março de 2012
A REBRA-REDE DE ESCRITORAS BRASILEIRAS
TEM O ORGULHO DE CONVIDAR PARA O LANÇAMENTO DA ANTOLOGIA
"L’INDISCUTABLE TALENT DES ÉCRIVAINES BRÉSILIENNES"
LANÇAMENTO DIA 16/03/2012
DAS 17 ÀS 19 HORAS
SALÓN DU LIVRE DE PARIS
STAND U 41- YVELINÉDITION
PORTE DE VERSAILLES
BOULEVARD VICTOR, PARIS 15ÈME
PARIS - FRANÇA
Ninguém avisou
Maria J Fortuna
Ninguém avisou pra gente que seria assim...
Tem curso para educar crianças, para atender aos vendavais da adolescência, para moços, senhoras menopausadas, etc. Tem até curso para lidar com terminais! Mas ninguém comunica com clareza pra gente o que poderá acontecer depois dos sessenta anos de vida... Salvo nos programas sobre saúde para a terceira idade. Se bem que curso de como envelhecer simplesmente, soa esquisito... Mas juro que eu não sabia... Talvez porque seja inexplicável...
Tal comunicado partiria, logicamente, de quem já vivenciou a estação do outono e chegou ao inverno. O que ocorre no corpo é óbvio. Mas, e no espírito que carece de superação a cada passo? O que toda esta enorme população de idosos está sentindo a respeito?
Salvo a fragilidade física, como denominador comum, o que sente esta grande camada de envelhecentes à medida que as décadas se sucedem? Estamos ai, trazendo todas as estações em nossos corpos em nossas lembranças, como se tais recordações pertencessem a encarnações passadas...
Sem chance terapeuta mais novos tratarem de idosos. Falta de referência. É como padre aconselhando casais. Na verdade quem não chegou até lá, não tem a menor idéia da situação. E os que chegaram preferem não comentar.
No meu caso procuro dentro de mim onde está o medo que gera tantos preconceitos. Então encontro na caixa preta do inconsciente o porque de tão difícil envelhecer: Medo da morte! No frigir dos ovos, sinto que toda nossa dificuldade de pessoas, jovens ou idosas, reside no tabu da morte. Fato que quanto mais consumistas somos, menos engolimos. Não só a certeza da finitude, mas a velhice é muito dura de ser aceita porque uma sinaliza a outra - o fim da nossa vida na Terra. Por isto evita-se falar sobre o assunto. Talvez em consultórios médicos, ou na confidencia de um individuo para o outro que está passando pelo mesmo processo... Mas é difícil encarar o fato com naturalidade. Tenho conhecido pessoas que apesar de serem muito religiosas, tem a mesma dificuldade.
Mas qual o momento da vida que não temos o desconhecido pela frente? E qual de nós não passa por pela sinfonia inacabada das perdas em todas as fases da vida? O medo de perder será maior que a vontade de ganhar? O que podemos ganhar no fim da vida? Quem, por alguns segundos, não se perdeu da mãe quando criança, e ficou desesperado chorando pelos cantos, sentindo um vácuo dentro de si? Dá para avaliar o que significa isto?
O desconhecido é uma questão sem solução para o ser humano. Por isto mesmo existe a esperança e a fé. A gente morre todos os dias por falta de fé que é irmã da esperança. Para os mais intelectualizados é mais difícil dizer que a fé vai à frente e o intelecto atrás. Não adianta querer discutir está questão. A mente não dá conta de resolver problemas do coração.
Ninguém avisou a gente que seria assim... Talvez porque a experiência de cada um, dentro deste contexto, é única e indivisível. Mas se descobrimos que assim é, vamos reconsiderar se estamos vivendo e como.
Teoricamente eu sabia que meu corpo iria ficar tão cansado algum dia que eu simplesmente pediria, talvez silenciosamente, para ir embora.
Mas também desconhecia que ao mesmo tempo em que o corpo vai caindo por terra, nova semente nasce em nossos corações – a semente da transcendência! Este apelo estimula nossa capacidade criativa que brota com maior intensidade. Na atenção movida pela curiosidade, o volume de indagações vai aumentando consideravelmente! É hora do passado tornar-se aliado e que as experiências antigas fundamentem as novas.
Tenho sentido que ao lado das dificuldades físicas, a capacidade de amar se amplia devido ao exercício de tolerância conosco mesmos e da compaixão para com os outros. A paixão continua existindo... Apenas não temos mais interesse em processar tudo que acontece a ponto de guardar na memória um punhado de coisas inúteis.
A idade é um número que não tem contagem regressiva. Cabe a nós mesmos somar conhecimento, sensibilidade e sabedoria.
Com tanta riqueza acumulada, não podemos pedir licença a ninguém para nos fazer presente, seja aonde for! Melhor que a gente se torne presente em amor e humor, o mais depressa possível!
Refleti e cheguei ao ponto: Importante é acreditar naquilo que estamos criando e vivenciando a cada dia. Nem todo mundo tem este privilégio até a hora partir. Cada um segue com a bagagem que arrumou com cuidado nos porões da alma. Sinto então que a morte é o inevitável encontro conosco mesmo. Mas que ainda tem tempo... quem sabe este encontro aconteça agora mesmo.
Quando o medo se faz presente, costumo dizer a mim mesma: enquanto minha alma passear por uma avenida cheia de carnaval e repleta de coisas sagradas, estarei vivinha da silva!
Ouçamos a música do Gonzaguinha em nossos corações: "Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz"... Que seja nosso refrão.
Tristezas do passado e medo do futuro... Péssima dupla!
Bem, Já que ninguém avisou como seria o inverno da vida, o jeito é, corajosamente, descobrirmos por nós mesmos. Tem outro jeito?
João do Rio é uma revista com exelente conteúdo! Em Crônicas Cariocas, além dos textos de Gilson Nazareth e outros, você encontra crônicas de Maria J Fortuna
http://www.joaodorio.com/site/index.php
http://www.joaodorio.com/site/index.php
sexta-feira, 9 de março de 2012
Deserto
Maria J Fortuna
Sabe, quando a gente acorda com a estranha sensação de
estar vivendo no limbo? Aquele lugar onde a Igreja dizia ( será
que ainda diz?) que ficam para sempre, depois de mortos, os que não foram
batizados? Tipo nem salgado, nem doce? Pois é... O tempo fica
preguiçoso e se veste de Dorival Caymmi: canções dentro do peito e
balanço na rede...
“Se já
fora
Que importa agora
Retalhar a dor, ai
Que doeu outrora
Infindada
A vez não é nada
Passaram-se agora”
Que importa agora
Retalhar a dor, ai
Que doeu outrora
Infindada
A vez não é nada
Passaram-se agora”
Podia ser. Mas não é. Este estado parecia não incomodá-lo, como a mim aborrece.
Para ele, sesta gostosa, para mim, perda de tempo.
É
tristeza branca, envolvida por nuvem acinzentada, vestindo a alma... E o
colorido não é de fácil mudança, porque mal aparece... Dou graças
quando surge algo que me possa sacudir, tirar-me desse estado. É parente
da saudade, mas em estado passivo, de lembranças não vêm embrulhadas pela
emoção. Na verdade, a alma querendo hibernar, adota o gênero:
deixa pra lá, quero mais é ficar quieta... Sem, contudo, tratar-se
de inércia.
Não
tendo sentimentos opostos para ser conflito, assemelha-se a certo estado de
tela, encoberta por filó... Sem que eu tenha o mínimo interesse para
desvendar esse véu que a encobre. O que lá existe, é natureza morta, penso eu.
E, mesmo com a certeza da presença de tintas e pincéis, nada me motiva a
usá-los. O engraçado é que não há sensação de provisório, mas uma espécie
de quase estagnação em que os movimentos se tornam pesados e lentos...
Pensou
em depressão? Não, não é isso... Acontece uma vontade enorme de
ficar na minha, como se diz por aí: calada, de um jeito quase meditativo,
sem saber por quê. Nada tem a ver com desesperança! Nem com desespero.
Talvez esta forma de manifestar-se, sem muita expressão, tem a ver
com um quase sonambulismo, sem conforto dos sonhos bons. Também não trás
pesadelo. Posso dizer que é escrita sem exclamação, comida insossa, instrumento
musical mudo, nuvens carregadas que não se transformam em chuva... Chato, não
é? Também não é crise de fé.
Lembra
deserto... Tão belo em sua aridez! Mas hoje também não sinto
beleza, como já disse, por causa da quase ausência da Luz.
Em
seu livro Deserto, Jean Yves Leloup escreveu: “Afirma-se,
às vezes que Deus se retira, que ele nos abandona; Mas não é Deus que não nos
abandona; são nossas ilusões, nossas projeções. Não se perde a fé; pelo
contrário, começa-se a entrar mais fundo na fé quando se perdem todas as
crenças, quando se deixam de lado os apoios das nossas representações.”
Não
será este estado de deserto, este limbo, alimento sem sal,
nuvens cinzentas sem chuva, este meu deserto interior, a continuidade do
processo de esvaziamento que estou vivendo?
quinta-feira, 8 de março de 2012
terça-feira, 6 de março de 2012
domingo, 4 de março de 2012
Busquei este poema nas malhas entranhas felinas de uma grande tecedora de beleza nas artes visuais em pintura e escrita!
ELIANE ACCIOLY

O gato-maravilha que em mim morreu
muitas vezes retorna,
cara redonda e invisível
Sua sombra errante corre livre
na saudade de bandos vadios
arrepiando as ruas e as paredes
de meu corpo
Intumescente lábio de lua crescente
fixo só na aparência
ri de mim, Alice,
prisioneira dos contrários,
o país dos espelhos
onde me extravio
na aprendizagem banal e mágica
de ser sendo
sexta-feira, 2 de março de 2012
TRANSMUTAR-SE
Maria
J Fortuna
A alma
possui um corpo forjado por aqueles que participaram de sua formação como
pessoa. Imagino a dança dos cromossomas trazendo, em cada um, sua carga
genética que constrói o caráter dos que vem a este mundo. Gosto de pensar no
sopro divino que anima cada um em particular, sua matemática cheia de lógica, o
jogo genético que vai se delineando no ventre materno com traços que vem de tão
longe... Cada um de nós é um poema escrito pela vida. E daí a pergunta:
Quem será o próximo que está sendo preparado para vir ao nosso encontro? E o
que trará consigo e o que deixará no mundo quando se for? Ou seja:
Quem somos nós e o que deixaremos, em nosso planeta, para os que aqui estão e,
em sua partida, o que irão deixar? O que vamos acrescentar, somar?
À medida
que o tempo passa, alguns desses pensamentos suscitam várias formas de
respostas. Ou será que elas são fruto dos anos que testemunham a luta pela
sobrevivência? E do esforço por crescer na convivência com a insegurança, filha
do medo? Mas é este sentimento de insegurança que nos faz mover em busca da
luz. A vida é um paradoxo. Sinto-me na reflexão acerca de tais
pensamentos. Sei que é necessária a consciência desse apelo cósmico para
crescermos, tal como a semente rasgando o seio da terra para sentir a luz do
sol. Um apelo intrínseco à natureza humana. Ultimamente venho sentindo,
cada vez com mais intensidade, o quanto este nosso mundo é virtual! E quanto
devo ser eu mesma para que não me perca do caminho. O drama da Terra parece
palco onde se desenrola a história de amor de um temido bruxo por certa bela
fada. Por isso temos necessidade da herança deixada pelos melhores seres
humanos que viveram antes de nós. Porque sabemos que todos nós vivemos estas
polaridades.
Existimos
e passamos para os outros a experiência de vida impressa em nossos corações.
Ação e suas consequências. Percebo que há um apelo forte para reconhecer
e acolher aquele que nos referencia como pessoa. E a importância do
discernimento: ser, e não ter e parecer, para que não nos percamos no falso, na
ilusão. Coisa difícil no mundo capitalista. É como se o bem e o mal
fossem trançados pelos cabelos da vida definitivamente. Saber conviver com os
ganhos e perdas. Ter coragem mais para ganhar do que para perder... Vigiar e
orar para que os momentos amorosos não se percam por causa do medo e da negação
de si mesmo, é fundamental. À medida que o mundo proporciona às pessoas a perda
de si mesmo, mais aumenta o apelo para a busca e encontro com o nosso eu
verdadeiro.
O que
fazemos com os traços de caráter que estão impressos na alma, desde a
fecundação? E o que faremos com nossas lembranças? Se boas, é bom que
fiquem aninhadas no coração; se más, temos o ímpeto nos livrarmos delas o mais
depressa possível. Muito difícil transformar dor de mágoa em gozo de amor...
Quando a alma suga muitas tempestades e fica encharcada, há uma grande
necessidade de desaguar. Mas isto só ocorre se não nos apegamos àquela dor que,
com o tempo, torna aquelas águas insalubres. Só o pranto, às vezes, não dá para
que esvazie e dê lugar às coisas vivas, por causa do apego, porque este, como a
insegurança, é também filho do medo. Mas é preciso escoar, torcer as
mágoas como o fazemos com borra de café. Para que nos transformemos, como
aqueles grãos colhidos, amassados e triturados, mas transformados em bebida
acolhedora em sua negritude morna e gostosa. Por isto o gosto de se reinventar,
criar!
Cada um há
de encontrar suas respostas. Mas é certo que sinto que, de uns tempos pra
cá, tenho pensado muito que sou responsável, não só pelo meu próprio
crescimento, mas também pelo o do outro. É a consciência, cada vez maior de que
somos iguais em nossas diferenças. E agradecida às pessoas que
colaboraram pelo que sou. Tanto de bruxa quanto de fada, pois o sangue venoso e
arterial ocupam o mesmo corpo que se transforma a cada momento. Por isso gosto
tanto do que disse o filósofo Sartre: “Não importa o que fizeram de mim, o que
importa é o que eu faço como o que fizeram de mim!”.
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